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A dublagem de animes na Crunchyroll e a importância do Brasil nesse mercado de streaming

  • Foto do escritor: Lámen Otaku
    Lámen Otaku
  • 20 de jan. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 11 de jul.

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Olá, leitor! No post de hoje, vou falar sobre muitas questões em relação à Crunchyroll, como o processo de dublagem de um animê na plataforma e a importância do Brasil nesse mercado. Todo o conteúdo do post foi retirado de uma entrevista com o consultor da Crunchyroll, Yuri Petnys (também conhecido como Arara). A entrevista foi concedida para a Rádio Geek BR, em seu quadro otaku, o Anime Station.


Bem, o texto está longo, espero que gostem ^^


A relevância do Brasil na dublagem de animes


Com base nos dados abertos da Crunchyroll (e não do mercado geral), o Brasil figura entre os cinco maiores países da plataforma de streaming, sendo o maior de língua não inglesa. O top 5 é composto por: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Brasil e Austrália — que disputam as quarta e quinta posições. Esse ranking considera o número de assinantes, visualizações, acessos e público em geral.

Se considerarmos a América Latina como um todo — pelo menos a parte hispanofalante —, a língua espanhola acaba superando o português no quesito de idioma não inglês mais assistido na plataforma.


No entanto, isoladamente, o Brasil é maior do que qualquer país hispânico dentro desse top.

O mercado brasileiro também se destaca por sua força e relevância, com várias conquistas inéditas na Crunchyroll. Um exemplo é a Crunchyroll TV — bloco de animes exibido no canal Rede Brasil —, que foi o primeiro no mundo a levar o nome da plataforma para a televisão. Nem mesmo os Estados Unidos tinham algo similar. Além disso, o Brasil foi o primeiro país, fora os EUA, a promover o jogo Grand Summoners.


Assinar a Crunchyroll ajuda o autor e/ou estúdio? Isso é verdade?


Essa é uma questão complexa. Para compreendê-la, é preciso entender como funciona a indústria de animes. Quando a Crunchyroll licencia uma obra, ela firma um contrato com as distribuidoras japonesas. Esse contrato é diferente dos acordos feitos por outras empresas, como Netflix ou Amazon. A Crunchyroll não apenas paga um valor fixo pela licença, mas também adota um modelo de revenue share (divisão de receita) de 50%. Isso significa que, além do pagamento inicial, 50% do lucro gerado por aquela série dentro da plataforma é repassado ao comitê de produção da obra.

Esse modelo é justamente o que permite à Crunchyroll adquirir diversos animes que empresas como a Netflix, por exemplo, não costumam licenciar — já que a Netflix prefere pagar uma quantia única e elevada, sem dividir lucros futuros. A Crunchyroll, por outro lado, usa esse sistema como diferencial nas negociações.


Mas como isso funciona na prática?


Se o estúdio faz parte do comitê de produção (o que é raro), ele recebe uma parte dessa receita que retorna. Na maioria dos casos, no entanto, o dinheiro não chega diretamente ao estúdio, pois este é contratado com um valor fixo para produzir a série — e não recebe porcentagens sobre lucros posteriores. Ainda assim, é importante entender que quanto mais lucrativo for o mercado internacional e quanto mais pessoas consumirem anime de forma legal, maior será o incentivo para a produção de novas obras — com potencial de melhor qualidade e mais investimentos.


Também é importante destacar que, quando um comitê de produção decide investir na criação de um anime — como é o caso de Mob Psycho 100, por exemplo —, ele está assumindo um risco financeiro. Essa decisão só é tomada quando o comitê acredita que haverá retorno por meio dos diversos canais de monetização disponíveis, como exibição na televisão, licenciamento internacional e plataformas de streaming.


Quanto maior for a expectativa de retorno, maior será o investimento possível na produção da série.

Se o comitê acreditar, por exemplo, que Mob Psycho 100 terá um enorme sucesso caso o lançamento seja adiado em três meses, é provável que eles concedam esse tempo adicional à equipe de produção. Isso resulta, naturalmente, em um produto final de maior qualidade. Portanto, quanto mais dinheiro circula nesse mercado, melhores se tornam as condições de produção. Se observarmos a evolução desde 2005, é evidente o crescimento da indústria: em 15 anos, o número de animes produzidos anualmente quase triplicou.


A competição


A produção de animes aumentou, em parte, porque o mercado de streaming está em constante busca por mais conteúdo. Plataformas como Netflix e Amazon vêm disputando cada vez mais espaço, tentando garantir sua fatia nesse mercado em expansão. E, por mais surpreendente que pareça, mesmo com a produção de títulos tendo praticamente triplicado, isso não significou, necessariamente, uma queda de qualidade. Em alguns casos, sim, a qualidade foi comprometida — muitas vezes porque os estúdios trabalham sob prazos apertados ou assumem múltiplos projetos ao mesmo tempo, o que acaba afetando o resultado final.


Novas técnicas


Como consequência, os estúdios também começaram a buscar mais animadores estrangeiros e a atrair novas empresas de animação para colaborar nos projetos. É dessa abertura que surgem inovações técnicas, como a popularização da rotoscopia em animes — técnica visível em obras como Yuri on Ice, que utilizou amplamente esse recurso para enriquecer suas animações.

Esse tipo de inovação surge da necessidade de produzir cada vez mais séries — algo que só é possível graças ao apoio da indústria internacional.


Como funciona a escolha dos animes que recebem dublagem?


Para entender o processo de dublagem internacional na Crunchyroll, é importante saber que, além do inglês, a plataforma normalmente trabalha com quatro línguas adicionais: espanhol, português, francês e alemão.


A decisão sobre quais animes serão dublados não se baseia apenas na preferência do público brasileiro, mas sim na demanda de todos esses mercados. Ou seja, não basta que uma obra seja popular apenas no Brasil — para que a dublagem faça sentido financeiramente, o anime precisa ter boa recepção em pelo menos dois ou três desses territórios.


Outro ponto importante é que dublar uma série é significativamente mais caro e demorado do que legendá-la. Enquanto as legendas podem ser feitas por uma equipe pequena e em pouco tempo, a dublagem exige um processo muito mais complexo: é necessário um diretor de dublagem, um editor de som e todos os dubladores — cada um com sua própria agenda. Tudo isso torna o processo mais longo e custoso.


Outro fator relevante é a popularidade e o potencial comercial da obra. Por exemplo, não faria muito sentido para a Crunchyroll dublar um anime como The Testament of Sister New Devil, que, apesar de relativamente popular, possui um alto teor de ecchi — o que representa uma barreira para exibições em canais de TV e limitações na monetização. Isso não quer dizer que a obra jamais será dublada — tudo é possível, afinal o mercado é imprevisível —, mas a viabilidade comercial precisa ser considerada.


Também entra em jogo a possibilidade de monetizar a série por outros meios e sua popularidade em mercados além do Brasil. Todos esses elementos influenciam diretamente na decisão de dublagem de um título. É sempre uma escolha estratégica e complexa, que leva em conta diversos fatores.


Aliás, a própria Crunchyroll recomenda que, caso exista algum anime que você gostaria de ver dublado, envie uma mensagem nas redes sociais da empresa. O feedback do público tem peso nas decisões futuras.


Sobre a dublagem de animes clássicos (como Cavaleiros do Zodíaco)


Muita gente não sabe, mas há diversos animes clássicos disponíveis com dublagem na Crunchyroll — Cavaleiros do Zodíaco é um bom exemplo. Curiosamente, esse anime está disponível apenas dublado, pois a Crunchyroll não possui os direitos sobre o áudio original em japonês.


Essa falta de conhecimento do público sobre quais títulos possuem dublagem se deve, em parte, à forma como a plataforma organiza seu catálogo. Diferente da Netflix, por exemplo, a Crunchyroll não oferece uma opção clara para trocar de idioma diretamente no player. Para encontrar uma versão dublada, é preciso procurar manualmente o nome do anime seguido da palavra "dublado" na busca. Isso torna a experiência menos intuitiva para quem procura especificamente conteúdos dublados.


Empecilhos no licenciamento de dublagens antigas


Um dos principais obstáculos para disponibilizar dublagens clássicas é o desaparecimento de produtoras antigas. Um exemplo clássico é o caso de animes dublados pela Rede Manchete — como a emissora já não existe, identificar quem detém atualmente os direitos dessas dublagens é uma tarefa extremamente complexa, muitas vezes exigindo uma equipe jurídica para resolver.


Além disso, é importante frisar: não é possível simplesmente pegar uma dublagem antiga de uma fita VHS, limpar o áudio e colocar na plataforma. O processo é muito mais criterioso e legalmente exigente.


O segundo — e talvez mais importante — empecilho é que, às vezes, a empresa até possui os direitos sobre a dublagem clássica da série, mas simplesmente não quer perder tempo negociando. Imagine o seguinte cenário: você é uma produtora japonesa, com várias séries recém-lançadas no mercado, lidando com questões de merchandising, vendas de Blu-rays e marketing internacional. De repente, alguém entra em contato dizendo:

Em 1985, vocês lançaram uma série de 26 episódios que passou despercebida, exceto no Brasil. Vocês poderiam localizar os arquivos antigos, restaurá-los e nos licenciar essa dublagem antiga? Ah, e o valor que temos para pagar é esse aqui, que achamos justo.

É fácil entender por que a maioria das empresas simplesmente não se interessa por esse tipo de proposta. O custo-benefício, para elas, não compensa.


Conclusão


Bem, leitores, esse foi o post de hoje. Espero que tenham gostado e que eu tenha esclarecido algumas dúvidas sobre dublagem de animes e o funcionamento desse mercado.


Abaixo, vocês conferem a entrevista que serviu de base para este texto. Até a próxima!






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